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Como Edison (re)inventou a lâmpada - e seus próprios mitos



Olá!

Dia 4 de Setembro é um dia muito importante na História da Iluminação Artificial e também, na Iluminação Pública. Neste mesmo dia no ano de 1882 (137 anos atrás) Thomas Edison ligava, pela primeira vez, lâmpadas elétricas em uma via pública dos Estados Unidos. Um fato até então inédito no planeta! E esta história fascinante nós adoramos contar todos os anos, tendo já dado muitos detalhes sobre ela no Blog (leia o post completo AQUI). Hoje, vamos estender um pouco mais este épico caminhar de Edison até o seu glorioso triunfo.

TOQUE DE MIDAS

A luz elétrica não foi a primeira invenção de Thomas Edison, nem foi ele o primeiro a criar uma alternativa as anteriores luzes a gás. A luz elétrica já existia em uma escala de luz de rua quando, num dia como o de hoje em 1882, Edison fez o teste que definitivamente o tornou famoso no mundo todo. Embora ele não tivesse inventado todo o conceito, sua lâmpada foi a primeira que se mostrou prática e acessível para a iluminação doméstica. O truque foi exatamante escolher um filamento que fosse realmente durável e barato - feito que a equipe de Edison, em Menlo Park, Nova Jersey, conseguiu testando mais de 6.000 materiais possíveis antes de encontrar um que se encaixasse no projeto: o bambu carbonizado. Na época, Edison declarava a um repórter do New York Times que visitou a fábrica logo após o teste bem-sucedido:

“Como não há oxigênio para queimar, você pode ver prontamente que esse pedaço de carbono durará uma vida inteira. Ele tem a propriedade de resistir ao calor da corrente elétrica e, ao mesmo tempo, se tornar incandescente, produzindo uma das luzes mais brilhantes que o mundo já viu. O custo de preparar uma dessas pequenas "ferraduras de carbono" é de cerca de 1 centavo [de dólar] e a lâmpada inteira não custará mais que 25 centavos."  


Thomas Edison foi um show-off incurável e auto-promotor de si próprio, circulando tantos mitos sobre sua personalidade e realizações que, 88 anos depois de sua morte (18 de outubro de 1931), alguns historiadores ainda relutam ao separar as lendas dos fatos.

INCONTÁVEIS INVENÇÕES E PATENTES

Edison porém,  juntou outras invenções à sua longa lista de contribuições que fizeram dele, detentor de um grande número de patentes nos Estados Unidos (1.093) até o século 21. Sua primeira patente foi a de um dispositivo para registro automático e rápido de votos no Congresso e nos legislativos estaduais. Mas, porque tal máquina era vista como uma ameaça para o obstrucionismo, os políticos não a queriam por perto. E embora Alexander Graham Bell tenha inventado o primeiro transmissor e receptor de telefone, foi Edison quem desenvolveu um sistema de reprodução de conversas telefônicas a longas distâncias, o suficiente para que pudessem ser ouvidas com facilidade (suspeita-se que Edison pode ter sido o primeiro a dizer "olá" no bocal de um telefone). Sua única descoberta realmente científica "básica" no entanto foi o chamado "efeito Edison" - consagrado meio de emissão de elétrons por um condutor elétrico aquecido - que levou posteriormente à criação de toda uma indústria eletrônica e, consequentemente, a chegada ao mundo de equipamentos como o rádio, a televisão, os computadores, o radar e outras maravilhas. De fato, as invenções de Edison são literalmente numerosas demais para serem mencionadas. Entre as principais delas estão:

-a câmera de cinema
-o microfone
-o fonógrafo (abaixo)


-o mimeógrafo
-o relógio de pulso (este, reinvidicado pelos defensores de Santos Dumont)
-a "caneta-estêncil "
-um precursor da pistola de tatuagem.
-além claro, do primeiro sistema de distribuição de luz elétrica em massa a baixo custo

AUTODIDATA, #SQN 

E embora suas realizações falassem por si, Edison foi acusado de ser prolífico e ambicioso ao inventar mitos que aumentassem sua reputação como um inovador maior ainda em vida, observou um perfil seu de 1979 publicado pela Revista TIME, que alegava também na matéria que suas invenções não foram apenas descobertas científicas e sim, frutos de prevaricações do seu tempo livre. 



Edson muitas vezes citou a si próprio como um autodidata, gabando-se de nunca ter frequentado um dia sequer a escola. Mas a Revista TIME porém rebateu a declaração como falsa: ele tinha sim frequentado pelo menos três anos de educação formal quando criança na zona rural de Ohio e, posteriormente em Michigan na sua juventude. Como inventor iniciante, também frequentou aulas de química na Cooper Union de Nova York (imagem acima), depois de perceber que seu conhecimento autodidata nessa ciência era insuficiente”.

COCHILOS

Outro fato pitoresco na vida de Edson era ele se gabar de nunca ter precisado de mais que três horas de sono por noite. Isso foi desmascarado depois como uma meia-verdade: ele conseguia livrar-se de uma noite inteira de sono regular cochilando eventualmente ao longo do dia. Prova disso é que, quando alguns arquivos da Ford Motor Co. foram abertos em 1951, pesquisadores encontraram muitas fotos de Henry Ford e seu amigo Edison em laboratórios, em reuniões e em passeios.



Em algumas dessas fotos, Ford parecia sempre atento e alerta, mas Edison podia ser visto dormindo em um banco, em uma cadeira ou na grama (imagem acima). "Sua arma secreta era a soneca curta, que ele elevava a um estado da arte",  relembrava um de seus associados. “Seu gênio pelo sono curto igualou-se seu gênio à invenção. Ele poderia dormir em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira, em qualquer situação", completa.


Imagem: a primeira lâmpada de filamento de Thomas Edison,
criada em 1879 e patenteada em 1880  


ESTRANHAS MANIAS 

Edison era um tipo estranho de herói. Um milionário que, muitas vezes, vivia como um vagabundo, dormindo em um armário com suas roupas - porque acreditava que tirá-las lhe daria insônia. Cuspia repetidamente no chão, mesmo em seus queridos e adorados laboratórios.



Advertia seus assistentes com pitorescos palavrões como "sensíveis, alegres e profanos; mentirosos, fanfarrões e traficantes" por exemplo. Ele não gostava de trocar de roupa ou de tomar banho e prejudicou muito sua saúde, alimentando-se na maioria do tempo a base de torta e cafés somente (imagem acima).

NEGÓCIOS 

Edison foi um verdadeiro inepto nas questões de negócios, pois perdeu o controle das empresas imensamente lucrativas que fundou. Sim, ele ganhou dinheiro: quando Edison morreu em 1931, deixou um espólio de mais de US$ 2 milhões. Nada mal para a profunda época da Grande Depressão, mas foi considerada hoje uma quantia "insignificante", comparada com aquela que um bom homem de negócios poderia realmente ter recebido com suas próprias invenções. Parte da razão para o fracasso de Edison em ganhar dinheiro com suas idéias, foi a resistência fanática que ele tinha a qualquer tentativa de modificá-las. Por exemplo, ele insistiu por muito tempo que seus cilindros produziriam melhores dispositivos de gravação do que os do tipo discos (comprovadamente mais práticos). Também por ter trabalhado com a corrente contínua (DC), lutou contra a introdução da corrente alternada (AC), dando demonstrações bizarras de sua eficácia com cães vadios e até elefantes de circo (!) sendo eletrocutados com choques de AC para dramatizar uma suposta ameaça (inexistente) do modelo concorrente à segurança dos seres humanos. Outra razão para a incapacidade de Edison de manter o dinheiro era a sua extravagância.



Ele foi o criador de um moderníssimo laboratório, o qual chamou de "fábrica de invenção": Menlo Park (imagem acima) foi sua Meca, considerado por muitos o primeiro laboratório efetivamente de pesquisa e desenvolvimento do mundo - onde Edison e sua equipe aperfeiçoaram a lâmpada e o fonógrafo por exemplo. Edison realmente foi o primeiro grande inventor de sua época a contratar uma equipe de cientistas e técnicos altamente capacitados, colocando-os para trabalhar sistematicamente na produção de inovações. Mas, sua incapacidade de ficar dentro de um orçamento condizente, rapidamente o faria ser demitido de qualquer laboratório corporativo hoje, pois tinha um gênio para gastar mais do que para arrecadar. Nenhuma quantia era grande demais para ser usada por exemplo em seus laboratórios: Edison ordenava o uso dos materiais mais caros do mundo para os experimentos, como platina. E, o único dispositivo que funcionou prontamente na primeira tentativa de experimento foi o fonógrafo. Foi uma descoberta afortunada: Edison estava tentando inventar um dispositivo que permitisse o envio de mensagens telefônicas através de linhas telegráficas e, ao descobrir que o aparelho poderia gravar a sua própria voz, ficou realmente surpreso. Mas não o suficiente: pelo fato de o fonógrafo funcionar com extrema facilidade, ele não desconfiou que este equipamento poderia gerar grandes lucros as suas empresas.

DEDICAÇÃO INSPIRADORA (ATÉ HOJE) 

Edison deu razão e ênfase já em sua época ao futuro termo "consumismo", com a frase:

"Qualquer coisa que não seja vendida, eu não quero inventar. Sua venda é uma prova de utilidade, e utilidade é sucesso".


Hoje pela primeira vez (rsrs), não há razões para duvidarmos de sua palavra. Edison tinha hábitos mentais que ainda podem ser úteis para os inventores e chefes atuais. Era um simples - mas incrível - criador persistente. Foi Edison quem disse que

"O gênio é 1% de inspiração e 99% de transpiração".


Não importava quantos assistentes ele contrataria para fazer a sua vez na "transpiração" enquanto, ele próprio, fornecesse a "faísca": quase todas as suas invenções viriam depois de milhares de experimentos falhos, mas que sempre lhe ensinariam algo. Edison também viu suas invenções em um contexto social e comercial. Ele elaborou várias listas de invenções que o mundo supostamente precisaria, ou pelo menos compraria e, partiu então a produzi-las. No caso da luz elétrica, o gás já estava acendendo as casas e, as luzes elétricas já iluminavam as ruas e as lojas - embora de um forma muito brilhante e dispendiosa para o uso geral. A necessidade agora segundo Edison, era criar alguma outra forma de iluminação elétrica em larga escala que proporcionasse um brilho mais estável e, acima de tudo, mais barato que o gás em uso. Para produzi-la, ele se baseava nas idéias de outros inventores (como costumava fazer), embora não lhes desse crédito. Depois de experimentar diversas quantidade de materiais, ele usou finalmente o carbono. E tentou dar a impressão de que ele surgiu com essa ideia de forma inédita. Mas o biógrafo Conot cita que, dados encontrados em seus cadernos de laboratório provam que Edson leu e sublinhou relatos de experiências alheias como as de Joseph Swan na Inglaterra. Swan havia inventado uma lâmpada elétrica que usava uma vara de carbono fina. Havia porém diferenças técnicas entre os bulbos que, segundo os defensores de Edison, faziam os dele superiores. Por exemplo, enquanto o bastão de carbono de Swan era bastante espesso, o filamento de Edison era bem mais fino. Mas, uma diferença crucial no processo todo foi que Swan de repente parou de desenvolver a sua lâmpada, enquanto Edison continuou na dele e, percebeu que a lâmpada realmente apropriada teria que nascer de toda uma série de outras invenções paralelas, como produzir um vácuo mais completo do que já existente e também, criar um vasto e complexo sistema de distribuição de energia para acender igualmente todas as lâmpadas, em todos os lares. Nas palavras de Edison:

"Não havia precedente para tal façanha e, em nenhum lugar do mundo poderíamos comprar algo parecido. Seria necessário então inventar tudo a partir do zero: dínamos, reguladores, medidores, interruptores, fusíveis." 


O que levou então Thomas Alva Edison a encarar o desafio e inventar, criar tudo isso? O seu próprio e profundo desejo de ganhar muito dinheiro e obter a glória pessoal, claro. Mas até Edison viu que, na enorme caminhada para o sucesso, ambições pessoais por si só já não seriam mais suficientes. Um de seus provérbios menos notáveis ​​apontou o caminho não apenas para os inventores vindouros, mas para todos aqueles que trabalham com os seus cérebros. Ele pregou em todos os seus laboratórios, uma citação de Sir Joshua Reynolds:
"Não há expediente o qual um homem não recorra para evitar o real trabalho de pensar",

acrescentando a ela depois um de seus próprios pensamentos:

"O homem que não faz sua mente cultivar o hábito de pensar, perde os maiores prazeres da vida".


Pensador pouco ortodoxo e em muitos aspectos, pouco atraente, Thomas Edison no entanto multiplicou os prazeres da vida a todas as pessoas na Terra que, posteriormente, ouviriam seus discos, assistiriam a seus filmes ou simplesmente, acionariam um interruptor de luz.

Obrigado Edison!



Fonte: Time (Arquivos) 




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